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Quelques “petits secrets” sobre como os franceses comem

Atualizado: 28 de fev. de 2024


adultos e idosos à mesa comendo


Uma primeira curiosidade:

As palavras restauração e restaurar remetem a o quê para você? E que relação você faria entre elas e restaurante? Pois elas têm a mesma base. Existe a “restauration d’une cathédrale”, certamente, mas qual é a relação entre: restaurant / restauration / se restaurer (restaurante, restauração, se restaurar)?


Tradução das definições do dicionário Robert:

. Restauration (Restauração): Setor de atividade que consiste na fabricação e / ou no serviço de refeições e bebidas, profissão de restaurador. A restauração e hotelaria; trabalhar na restauração.

. Se restaurer (se restaurar) = Repor as forças comendo

Então “un restaurateur” é aquele/a que trabalha com alimentação.



Cultura alimentar e saúde chez les français


Existem alguns “mitos” sobre a saúde e a longevidade dos franceses, assim como sobre a silhueta deles (ou delas - la française svelte), que o vinho diário é a panaceia, que o azeite... Não sou médico e sempre fui muito ruim em bioquímica, mas tenho minhas suspeitas baseadas em observações e convívio com franceses na França. Apesar de ainda serem grandes fumantes, amantes dos queijos, produtos lácteos e pâtisserie (baguette, croissants..) existe um conceito chamado “hygiène de vie”, que diz respeito ao critério, modo de vida e hábitos alimentares. 


Quanto à expectativa de vida, as estatísticas revelam o seguinte ranking:


Expectativa de vida

Expectativa de vida

em boa saúde

Japão

1º lugar

1º lugar

França

10º lugar

8º lugar

Brasil

68º lugar

81º lugar



Vamos agora aos “segredinhos” sobre as reconhecidas saúde e boa forma dos/as francese/as.


Em geral os franceses dão muita importância à alimentação. O ícone da altermundialização, José Bové, já tinha cunhado o termo “malbouffe” (“rango ruim”), se referindo ao fast-food ao McDonald, na ocasião do Fórum Econômico Internacional, em Seattle, em 1999 (ele chegou a ser preso por ter explodido um McDonald de madrugada na França, como símbolo político!)


A primeira coisa que vem ao se representar uma refeição francesa é a prática das etapas, historicamente como um sinal de nobreza: entrée - plat principal - fromage - dessert (entrada - prato principal - queijos - sobremesa). A entrada sendo normalmente uma salada com vinaigrette (francesa, e não a que fazemos aqui), este seria um primeiro passo para um equilíbrio alimentar: não somente pelas fibras, mas pelo fato de “acalmar” a fome antes de “atacar” o prato principal. Além disso, essa maneira na mesa nos permite comer mais devagar, o que, como se sabe, é prescrito.


O segundo “segredinho” que poucos mencionam é que existe (tradicionalmente) algo de “macrobiótico” na refeição francesa: não se mistura muita coisa, logo, não há tanta interação alimentar, o que já se demonstrou que não é sempre boa coisa, considerando também os antinutrientes que não combinam entre si. Ou seja, os franceses comem de tudo (ou quase), mas não ao mesmo tempo. É comum o prato principal ter dois ou três elementos: uma carne com puré ou outro legume por ex. E não se preocupe, as opções vegetarianas não param de crescer, é só uma questão de boa vontade e imaginação. Essa característica contribui muito aos que alegam que cozinhar leva tempo. Bem mais que a metade dos franceses cozinham em casa. Os franceses cozinham, e rapidamente. Quase a metade passa entre 15 e 30 min preparando uma refeição. Existe uma expressão francesa interessante: “vite fait et bien fait” (feito bem e rápido).


A 3a particularidade tem a ver com a anterior: se por um lado os franceses não misturam tudo num prato, por outro lado eles não repetem tanto o que comem durante a semana, logo, isso permite uma alimentação variada, mas não misturada. Essa particularidade corresponde de certa forma a uma prática “burguesa”, mais viável em países ricos. Mas não deixemos de considerar a riqueza natural talvez inigualável do Brasil, infelizmente mal explorada! 


Em quarto lugar eu colocaria a importância que se dá na França aos produtos frescos. Você verá em Paris une jolie dame na feira de domingo (às vezes com seu scarpin, rsrsr) escolhendo bem suas frutas e legumes (sem tocá-los, s’il vous plaît! Lembrem-se de Amélie Poulain).


Em quinto, eu mencionaria no critério qualidade dos produtos o interesse crescente pelos orgânicos. O mercado orgânico  - marché bio - está sempre crescendo na França, mais da metade dos franceses consome hoje produtos orgânicos, ao menos uma vez por semana.


Em sexto lugar, eu gostaria de compartilhar também algumas observações que fiz sobre conteúdo alimentar.


O açúcar

Vou poupar aqui de mencionar os males causados por excesso de açúcar. A OMS recomenda o consumo de 25g por dia por adulto, e máximo de 50g, o que se aproxima de 18kg por ano.

Apesar de toda a pâtisserie, na França consome-se em média 35 kg de açúcar por ano por habitante, superior à média mundial mas bem inferior aos campeões do mundo. Observe que o sucesso da pâtisserie francesa está no equilíbrio entre o sabor e o açúcar, o açúcar demais se sobrepõe ao gosto dos ingredientes.

O brasileiro consome entre 51 e 55 quilos de açúcar por ano, enquanto a média mundial por habitante corresponde a 21 quilos por ano.


O sal

O consumo excessivo de sal representa o principal fator de risco de morte ligado à alimentação e à nutrição e hipertensão, principalmente.


A França não faz um bom dever de casa quanto ao consumo de sal. O consumo médio é de 8,7 pelos homens e 6,7 pelas mulheres (ANSES). A recomendação da OMS é de 5g/dia (uma colher de café). 


Os brasileiros, que são grandes consumidores de sal, média de 9,3g, quase o dobro recomendado, se declaram consumidores moderados (48,6% dos brasileiros - PNS/IBGE).


Acredito que esse quadro nos coloca em situação bem desvantajosa em relação à França considerando o critério alimentar em sua totalidade.


A ingestão de sal em excesso pode ser outro dos principais motivos para que aconteça a retenção de líquidos. O sal ativa o hormônio antidiurético, que, por sua vez, inibe a urina, fazendo com que o líquido se acumule cada vez mais no organismo. Talvez seja um dos causadores do inchaço tipicamente brasileiro. Quem quiser manter a linha, vale também confirmar.


Finalmente, quando você vai para Paris, adora andar, desce e sobe as escadarias do metrô, como os habitantes locais, sem reclamar, aluga um apartamento no 3º andar sem elevador (aí você costuma reclamar), vive a cultura de “commerce de proximité” - comércio de proximidade… Quando volta para o Brasil pega seu carro para fazer compras na esquina, ou para ir para … a academia! Isso tudo contribui ao que se chama “Hygiène de vie”. 


Termino aqui com a famosa vinaigrette.

Costumo brincar que a vinaigrette salva uma vida. O que acontece é que muita gente come duas folhinhas de alface (misturada no prato quente!) porque “é bom para saúde”. O ideal seria adorar comer um prato de salada como entrada, por exemplo. Mas falo também brincando que comer folhas assim é coisa para cavalo. Na verdade a vinaigrette faz toda a diferença. Seu filho/a vai comer verduras e muitas outras coisas sem ser obrigado, isso, claro, porque você fará o mesmo antes!


Trata-se de um verdadeiro ritual cotidiano francês très simple:



aspargos com molho vinaigrette


Pour quatre personnes:

- meia colher de café de moutarde (de Dijon, Maille);

- 1 colher de sopa de vinagre

misture bem isso primeiro

- 2 colheres de sopa de óleo (eles usam de soja mesmo); mas claro que pode ser de azeite


Tudo fica bom: salada de alface, de tomate (tente só tomates), aspargos, alcachofra, rabanete, e até nabo ralado! …


Como puderam perceber, meu objetivo aqui é desfazer alguns mitos sobre o que os franceses comem e bebem (o bom e santo vinho!), e esclarecer sobre como eles comem e vivem. É preciso sempre lembrar que a cultura do "savoir vivre" passa por gostar trocar ideias à mesa.


Bon appétit, très bonne santé et longévité!!!





Des sources:

Espérance de vie


La consommation de sucre






 
 
 

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